segunda-feira, 17 de março de 2008

Compaixão

“A verdadeira compaixão é inerente à nossa natureza fundamental, mas só a exercemos se este potencial que faz parte de nós for utilizado. Compaixão e ódio são duas emoções opostas, contraditórias, antagônicas. Nunca podem ocupar, ao mesmo tempo, o espaço do nosso Espírito, se uma está operante, a outra não pode estar. Assim, quando o ódio nos domina, é impossível sentir compaixão. E uma emoção que não se manifesta de verdade não estará presente nem atuante em nós, sendo simplesmente virtual.” Dalai Lama

A compaixão não é muito bem vista, grande parte das pessoas não gosta de senti-la nem de ser alvo dela; pois compadecer é sofrer com. Como seria a compaixão uma virtude se todo sofrimento é ruim?


No dicionário, seus antônimos são: dureza, frieza, crueldade, indiferença, insensibilidade. Seu quase sinônimo é simpatia, o que diz em grego o mesmo que compaixão diz em latim.

SIMPATIA
• Por que então, em um tempo onde a simpatia é tão valorizada, a compaixão é quase renegada? Sem dúvida porque os sentimentos são preferíveis às virtudes. Mas o que pensar da compaixão que pertence a ambas as ordens? Não seria justamente nesta ambigüidade que ela encontra sua fragilidade e a essência de sua força.

• Simpatia significa a participação efetiva dos sentimentos do outro; simpatizar é sentir com. Resta saber com quem simpatizar, pois participar do ódio de outrem é ser odioso, participar da crueldade de outrem é ser cruel.

• Compaixão é uma das formas de simpatia: compaixão é simpatia na dor ou na tristeza do outro. Mas não existe equivalência nos sofrimentos (como o invejoso que sofre diante da felicidade do outro) que nem por isso deixam de ser sofrimentos e, portanto merecedores de compaixão. O sofrimento é um mal moral, não por ser sempre moralmente condenável, mas por não ser moralmente lastimável. Esta lástima é a forma mínima de compaixão.

Em seu princípio a compaixão é universal e moral (por não se preocupar com a moralidade de seus objetos) e por isso que ela leva a misericórdia. Simpatizar com o prazer do torturador, é compartilhar sua culpa. Mas ter compaixão por seu sofrimento ou por sua loucura é ser inocente do mal que o corrói, e recusar-se ao menos a somar ódio a ódio.

Diversos autores criticam a compaixão, geralmente empregam a palavra piedade para designá-la. A piedade é uma tristeza que sentimos diante da tristeza do outro, o que não o salva desta, que continua, nem justifica aquela, que se acrescenta a esta. O que condena é justamente o fato da piedade aumentar a quantidade de sofrimento do mundo. Para os estóicos, mais vale a ação em vez da paixão, e a generosidade em vez da piedade.

Spinoza

O que nos leva a ajudar nossos semelhantes é a alegria (que é boa), a razão (que é justa), o amor e a generosidade, não a piedade. “Isso basta ao menos aos sábios que vivem sob a condição da razão. Porém, aquele que nem a piedade o impelem a socorrer os outros, chamamos justamente de inumamos, pois não se parecem com um homem.”
A piedade é definida como tristeza, ao passo que a compaixão é definida como amor, isto é antes de mais nada, como alegria. Isso não suprime a tristeza da compaixão, mas muda sua orientação. Pois amor é uma alegria, e, ainda que a tristeza prevalecesse na compaixão, preocupadas com ajudar e não com desprezar.

Rosseau

Afirma que a piedade seja a primeira das virtudes e a única natural. Pois ele acredita que a piedade é um “sentimento natural” por derivar do amor que temos por nós mesmos (por identificação com os outros) e temperar, assim, em todo homem, “o ardor que tem por seu bem-estar com uma repugnância inata a ver seu semelhante sofrer”.

Schopenhauer

Esse pensador é muito mais profundo, ao ver na compaixão o motivo por excelência da moralidade e a origem de seu valor.

Segundo ele a maioria de nossas virtudes só visa à humanidade, e sua grandeza e seu limite. A compaixão ao contrário simpatiza universalmente com tudo o que sofre: se temos deveres para com os animais, é por isso que a compaixão talvez seja a mais universal de nossas virtudes.

O que é pior: dar uma bofetada numa criança ou torturar um gato?

Segundo o autor, o segundo ato é mais grave, o que nos leva a perceber que o gato, mesmo sendo um animal, merece muito mais a nossa compaixão. No exemplo aqui, a dor prevalece sobre a espécie, e a compaixão sobre o humanismo.

“A compaixão é assim, essa virtude singular que nos abre não apenas a toda humanidade, mas também ao conjunto de seres vivos ou, pelo menos dos que sofrem”.

Hannah Arendt

Mostrou que a piedade, como mola da virtude, revelou possuir um potencial de crueldade superior ao da própria crueldade.
Para ela, o que distingue a piedade da compaixão é que a compaixão ao contrário da piedade, ”só pode compreender o particular, mas fica sem conhecimento do geral”; a compaixão é concreta, singular e naturalmente silenciosa. Já a piedade é abstrata, globalizante e loquaz. Daí a violência da piedade, diante da grande doçura da compaixão.

O autor do livro propõe outra distinção: “a piedade nunca, parece-me, nunca existiria sem uma parte de desprezo ou, pelo menos, sem o sentimento, em quem a sente, de sua superioridade... a compaixão não supõe, quanto a seu objeto, nenhum juízo de valor determinado.”

• “Em compensação, parece-me que só temos compaixão pelo que respeitamos”

• “Não há piedade sem uma parte de desprezo; não há compaixão sem respeito”.

BUDISTAS E CRISTÃOS

• A compaixão é a grande virtude do Oriente budista, e já a caridade é a grande virtude, pelo menos em palavras, do Ocidente cristão.

• Se fosse preciso escolher, poderíamos dizer o seguinte: a caridade seria melhor, com certeza, se dela fôssemos capazes; mas a compaixão é mais acessível, assemelha-se a ela (pela doçura) e a ela pode nos levar.

• Ou para dizer de outro modo: a mensagem de Cristo, que é de amor, é mais exaltante; mas a lição de Buda, que é de compaixão, é mais realista.

• “Ama e faz o que queres”, pois – ou compadece-te e faz o que deves.

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TURMA 2J

Esse foi o semestre vivido pela turma 2J de jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie (1º semestre de 2008).

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Carlos Eduardo Xavier

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Atendo pelo nome Carlos Eduardo Xavier. Nasci em Assis (SP) no dia 17/12/1987 e logo me mudei para Cerejeiras (RO), onde passei minha infância, melhor fase da minha vida. Novamente em Assis, termino a escola e o colegial. Vou morar na Itália, onde passo um ano convivendo com pessoas de mais de 100 nacionalidades. Em Loppiano (Firenze - Itália) é que aprendi a viver o que a vida sempre me ensinou. Assis pela terceira vez me recebe, mas por somente seis meses. De lá vou para a capital do estado, onde, agora, faço Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie. MSN... cadu_gen@hotmail.com