terça-feira, 20 de maio de 2008

O mal-estar da teoria - Ficha...

TRIVINHO, Eugênio. “Comunicação e cultura no pos-guerra”. In: ________. O Mal-estar da teoria. Rio de janeiro; Quartet, 2001, p. 41-62.

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Submetido às regras do mercado, à lógica do lucro e ao gosto medial das multidões, a cultura massificada invadiu, nas ultimas décadas, todos os poros da sociedade tecnológicas contemporâneas - e, não fosse pelo advento da WWW no inicio dos anos 90, estaria articulando-os prioritariamente ate hoje, em particular através da consonância de cada um de seus ramos constitutivos.

Na realidade, a pós-modernidade não é nenhuma coisa, nem outra, exclusivamente. Ela não é propriamente uma época histórica porque nada ha nela de puro que justifique uma demarcação arbitraria especifica, por distinção total a outras épocas históricas. [...] Ela não é somente uma condição cultural. [...] E ela não é apenas uma corrente de pensamento.

Vetores assim se explicitam: o fenômeno pós-moderno está implicado na falência em cadeia dos metarrelatos / teleologias / utopias, aí compreendida a tragédia do progresso tecnológico e a decomposição das burocracias socialistas do leste; no desmoronamento dos conceitos universais (...), com a conseqüente obliteração das essências e constantes histórico-antropológicas (que presidem a busca da verdade ontológica e ultima dos fenômenos); no embaralhamento das oposições binárias claras e distintas (...), com a conseqüente promoção de hibridismo / (con)fusões e de inversões, aqui incluso o destronamento do ente humano pela tecnologia através do acoplamento irreversível entre ele e a maquina; na pulverização das classe sociais em categorias e grupos; na obliteração do social ordinário (com a sua conversão num social mediático), da memória social e cultural (com a sua transformação numa memória tecnológica, exteriorizada) e da historia (com a sua explosão em um miríade de historias promovidas pelos media); na transformação da cena política em espetáculo, com acentuadas tendências à despolitizacao da sociedade civil e à museificacao das zonas urbanas; na neutralização sistemática das negatividades dialéticas (como motores do desdobramento continuo do real); na estetização generalizada dos espaços urbano e privado; na aceleração tecnológica de todos os domínios da existência humana; na militarização velada da vida cotidiana civil através da proliferação social de elementos tecnológicos originários de processos bélicos; na auto-referencialidade e hipertelia (acompanhadas de uma modalidade de legitimação não-discursiva) de fenômenos, processos e tendências; e no excesso de toda e qualquer produção entre outros vetores majoritários de pós-modernização da sociedade.

[...] todos esses vetores estejam ligados, direta ou indiretamente, ao desenvolvimento social do fenômeno comunicacional infoeletrônico. [...] Pode-se mesmo dizer que o fenômeno pós-moderno é um produto típico do poder de irradiação comunicacional.

Entretanto, diversos acontecimentos processados no século XX acabaram por patentear a tendência de destruição e morte implicada no projeto moderno: duas guerras tecnológicas [...], totalitarismo de direita e de esquerda, [...] Hiroshima e Nagasaki, [...] multiplicação de conflitos bélicos [...].

A solidariedade traduziu-se em assistencialismo instrumental, [...] a razão se converteu em princípio de dominação; [...] a técnica e a tecnologia, em objeto de culto diário. [...] A ideologia do progresso tecnocientífico caiu em desgraça.

A lógica da modernidade, tortuosamente sulcada em promessas originais traídas, começa, já em meados dos anos 40, porém mais acentuadamente a partir dos anos 70.

[...] a pós-modernidade, ao contrário da modernidade, não dispor (dispõe - grifo meu) de um projeto político e social. [...] A pós-modernidade, ao contrário, iniciou-se por uma revolução tecnológica direta, isto é, sem mediação discursiva organizada. [...] A pós-modernidade se põe como algo que simplesmente é, como fenômeno que precisa ser porque não pode deixar de se realizar.

A pós-modernidade é uma continuidade radicalmente diferenciada da modernidade, implicando-se, nessa idéia, a questão da ruptura: o fenômeno pós-moderno significa, a um só tempo, proximidade e afastamento, prolongamento e abandono por desdobramento acelerado.

A pós-modernidade é a incrementação, a exponenciação, a radicalização de todos os processos modernos. Trata-se de uma modernidade por excesso, uma "hipermodernidade" de fato.

[...] a publicidade não vende mercadorias, vende-se; o Estado é defectivo, colabora para a desordem; a universidade produz títulos sem valor de troca [...], e assim por diante. É toda uma sociedade cujos subsistemas não cumprem mais a sua premissa fundadora. Tais processos presidem, em grande medida, o mal-estar da época atual.

Humanismo em ruína, ou os vários destronamentos do ser. [...] trauma cultural: o do empequenamento progressivo e irreversível do ser humano. [...] Esse processo de corrosão simbólica - sabe-se - é inaugurado pela revolução copernicana, no século XVI: a Terra não é o centro do Universo, [...] Com efeito, é no cientificismo do século XIX, com a revolução darwiniana demolindo a versão bíblica da origem da vida humana, que o alvo começa, a rigor, a ser melhor assestado: o ser humano é elemento sobrevivente de uma milenar seleção natural das espécies; provém dos primatas. [...] A revolução freudiana [...]: o ser humano não é um todo coeso e unitário, mas um mosaico fragmentário e intrinsecante conflitivo; e ele não é determinado pela razão, mas pelo inconsciente, pelo desejo e pelo trauma.

A revolução existencialista sartreana e heideggeriana, confrontando as metafísicas antropocêntricas tradicionais e modernas, sugere: o ente humano consta jogado ao mundo sozinho, [...] A revolução genética, [...] promulga: o ser humano é, antes de tudo, determinado pelo DNA, código da vida repleto de genes defectivos, responsáveis, entre outras coisas, pelas doenças hereditárias desencadeadas durante o processo de envelhecimento.

[...] fenômeno de longevidade indeterminada: a cibercultura. Consolidada internacionalmente no último quartel do século XX, trata-se de um modelo tecnológico de cultura que se estende e se ramifica de maneira avassaladora.

A cibercultura está implicita em tudo o que de mais socialmente importante vem à luz no mundo contemporâneo, na medida em que todos os objetos, procedimentos e processos doravante predominantes dependem, em alguma medida, da matriz informática da tecnologia. [...] Não por acaso, essa tecnocultura tem aplicado vivamente questões inéditas de direito e de ética.

A cibercultura compreende linguagens estruturadas e estruturantes, sujeitas a mudanças constantes, que estipulam a exigência de um novo aprendizado universal, a ciberalfabetização.

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TURMA 2J

Esse foi o semestre vivido pela turma 2J de jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie (1º semestre de 2008).

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Carlos Eduardo Xavier

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Atendo pelo nome Carlos Eduardo Xavier. Nasci em Assis (SP) no dia 17/12/1987 e logo me mudei para Cerejeiras (RO), onde passei minha infância, melhor fase da minha vida. Novamente em Assis, termino a escola e o colegial. Vou morar na Itália, onde passo um ano convivendo com pessoas de mais de 100 nacionalidades. Em Loppiano (Firenze - Itália) é que aprendi a viver o que a vida sempre me ensinou. Assis pela terceira vez me recebe, mas por somente seis meses. De lá vou para a capital do estado, onde, agora, faço Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie. MSN... cadu_gen@hotmail.com